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Editorial - 15/02/2019 | 15h14m

Agressão a professor

Há 26 anos direto na regência de classe numa escola municipal, dezenas de vezes fui vidraça na mira de agressão verbal no ambiente de sala de aula. Quando vitimada pelo aspecto emocional, procurei recursos para solução das questões. Encontrei métodos que no final, contribuíram para deixar o agressor/aluno vislumbrado com sua atitude e baixaria, colocando minha posição de profissional do magistério bem abaixo do chão.

Na verdade pura e seca, no Brasil, escola pública e muitas particulares acumulam o massacre diário de agressões verbais oriundas de todo tipo de aluno e faixa etária contra o professor. Tudo com apoio velado da direção, orientação e família. Quando o profissional tenta explicar que é inocente e que deixa seu lar para transmitir o conhecimento de sua matéria, obviamente é detonado por argumentos diversos como “mas você é de maior idade, mas você não teve paciência para dominar a situação, mas você não pode comparar sua posição com a do aluno, mas o pai está pagando, mas a família dele é quem paga seu salário, mas sua postura de professor não é aceita em nossa escola, etc e mais etc”.

O contexto é sempre o mesmo. Com o passar dos anos, cheguei em casa para almoçar e pela primeira vez falei: “Estou secando gelo. Vivo num mundo que o aluno não copia conteúdo de matéria, chega na sala a hora que bem entende e fica do jeito que deseja. Se oriento para mudar a atitude, na hora, encontro um balde de resposta negativa e agressiva, expondo minha atitude como se algo negativo estivesse ali sendo gerado.”

Com a continuidade dos fatos, o estress, o cansado físico e emocional, o desgaste, o desânimo e todo tipo de adjetivo semelhante aos anteriores foram invadindo meu jeito de ser, colocando a profissão no ponto final, o que aconteceu com a definição: chega.

E no fechamento do ano era sempre a mesma resposta: APROVADO. Acredito que o Brasil passa por fases piores no ensino público e até em rede particular, onde o dinheiro para manter a estrutura tem peso significativo e quem sempre tem a razão é “o aluno”.

Hoje vejo o magistério com muito respeito. Vivi cada etapa, guardo cada situação. Tenho muito carinho pelo que fui e contribuí.

Profissão isolada no contexto escolar e de muito trabalho em casa sem merecimento de pessoas alheias, por isso que muitos afirmam que a tarefa é um dom, uma vocação que não tem preço. Acho que é uma química sem remuneração e em fase de extinção, que as aulas online traduzam ao contrário.

Fui, não sou. Desejo boa sorte aos que chegam. Nada muda. O que temos e o futuro terão situações de cunho negativo ainda mais expostas e o pior: nas redes sociais.

No futuro, magistério será uma profissão em extinção e para poucos.

Eliete Fonseca
Jornalista Profissional
Registro 18.902/RJ