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Matérias - 06/08/2018 | 15h02m

Cultura do "Faça Você Mesmo" ganha espaço nas salas de aula

Agência Brasil
Construir, consertar, modificar e fabricar objetos e projetos com suas próprias mãos. Essa é a proposta do Movimento Maker ou Cultura Maker, mais conhecida como Faça Você Mesmo ou Do It Yourself (em inglês ou simplesmente DIY). Amplamente difundido nos Estados Unidos, o movimento tem ganhado espaço nas escolas brasileiras, que buscam com o método tornar o aprendizado mais atrativo e estimular os estudantes a desenvolver projetos e produtos a partir dos conteúdos escolares, muitas vezes pouco práticos.

Embora o movimento venha crescendo na educação nos últimos anos, a ideia não é uma novidade, existe desde a década de 1960, como explica a diretora pedagógica da Via Maker Education, Sueli de Abreu.
“Todo mundo está recorrendo a autores daquela época, como Seymour Papert e Paulo Freire [que pregavam o aprender fazendo, em vez de simplesmente receber a informação passivamente], e estão trazendo isso para os nossos dias de forma reeditada”.

A Via Maker Education é uma empresa brasileira que desenvolve projetos com uso de blocos de montar de plástico para cada fase escolar.

A diretora de conteúdo da feira de educação Bett Educar, Vera Cabral, destaca que a tecnologia facilita "a inclusão de todos os alunos, apresentam soluções que são mais viáveis para os processos de aprendizagem em cada momento, além de facilitarem o trabalho do professor, na medida que dá subsídio para ele achar diferentes estratégias". A feira é maior na área de educação e tecnologia da América Latina.

Tecnologia
Incentivador das impressoras 3D e outros instrumentos de tecnologia digital, o Movimento Maker não está restrito às disciplinas exatas.

“Projetos makers vão funcionar para valorizar os conhecimentos da matemática ou da língua portuguesa, porque eu posso fazer poema na cultura maker, posso fazer física, álgebra, química qualquer coisa. Pode-se trabalhar todas as disciplinas escolares na cultura maker”, diz o mestre em psicologia cognitiva e professor de psicologia na Universidade Federal de Pernambuco, Luciano Meira.

Ele enfatiza, no entanto, que é importante produzir algo em função da aprendizagem.
“Eu não vou fabricar copos porque é legal, mas porque está dentro de uma pedagogia de aprendizagem da geometria de cilindros, por exemplo. A escola deve se preocupar com isso”.

Apesar da ligação com a tecnologia, a cultura maker não precisa de tecnologia digital e materiais caros para ser introduzida.
“Não é preciso cortador à laser, nem impressora 3D, que são obviamente, instrumentos de fabricação digital que você pode ter para valorizar certos aspectos da cultura maker, mas não são imprescindíveis”, diz.

“Muitas vezes há um movimento de primeiro adquirir as coisas e depois fazer a cultura acontecer”, defende.

Rede pública
Os laboratórios makers têm sido mais comuns nas escolas particulares, mas existem iniciativas para que o movimento chegue às escolas públicas no país. Uma delas é o programa Hacking the STEM (sigla em inglês para as áreas de Ciências, Tecnologia, Artes e Matemática), oferecido gratuitamente pela Microsoft.

O programa oferece planos de aula de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, desenvolvidos por professores para professores. Os planos de aula são interdisciplinares e permitem que os alunos criem uma variedade de projetos que variam desde o desenvolvimento de anemômetros (instrumento de mede a velocidade e a direção do vento) à construção de mãos robóticas a partir de materiais recicláveis.

Fundadas na solução de problemas do mundo real, as atividades também estimulam habilidades requisitadas no século 21 - mecânicas, elétricas e de engenharia de softwares - enquanto trazem à tona a ciência de dados.

“Existe muita dúvida quais serão as profissões do futuro, mas uma coisa é certa, as profissões do futuro vão demandar coleta e análise de dados, então experimentos que possibilitam que os alunos comecem a se familiarizar com este tipo de ambiente de uma forma lúdica e divertida é importante para que o aluno que possa aprender e melhor se preparar para os desafios do futuro”, diz o diretor de Educação da Microsoft, Antonio Moraes.

O governo federal também tem atuado para que as novas tecnologias estejam disponíveis na rede pública de ensino. Em novembro do ano passado, lançou a Política de Inovação Educação Conectada, programa que pretende universalizar o acesso à internet de alta velocidade nas escolas, a formação de professores para práticas pedagógicas mediadas pelas novas tecnologias e o uso de conteúdos educacionais digitais em sala.

Segundo o Ministério da Educação (MEC), o programa prevê um plano de formação continuada para professores e gestores com cursos específicos sobre práticas pedagógicas mediadas por tecnologia, cultura digital e recursos educacionais como robótica. Serão oferecidas bolsas de três meses para 6,2 mil articuladores que atuarão localmente, no processo de construção e implementação de ações na rede de ensino.

Renovação
Não é somente com tecnologia digital que as práticas pedagógicas estão sendo reinventadas. A música, por exemplo, vem recebendo novas formas de aprendizagem. Um exemplo é o projeto educacional Música em Família, que pretende proporcionar momentos divertidos de interação da criança com a família e a escola, através de atividades artísticas e brincadeiras extracurriculares.

O projeto nasceu da vontade dos músicos Paula Satisteban e Eduardo Bologna e foi elaborado junto com educadores.
“Fizemos esse material que, através da música, que é um disparador, inspira os educadores, as crianças e as famílias a olharem para si e se divertirem e se encontrarem”, diz Paula. O projeto reúne um conjunto de CDs e livros que a criança preenche com colagens e textos sobre suas experiências e histórias com a família e a música vem como pano de fundo.

“Ainda não temos nenhum material em telas [de computadores], não somos contra, mas até agora não achamos necessário. Nosso projeto é muito humano e proporciona esses encontros em família. A música faz isso, toca a gente, é um projeto de vivência e experiência real e não virtual”, acrescenta.